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O fenômeno Bozo: dinastia autocrática

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Bolsonaro teve apoio de 39% do eleitorado na eleição de 2018. Mas em agosto de 2018 ele tinha 37% de rejeição, contra 30% de Lula. Foi um candidato que surgiu para dividir o eleitorado, para promover a polarização ideológica. Muitos até hoje repetem que ele capturou a"identificação pessoal" (e portanto cega, emocional) de uma parte significativa do eleitorado, embora outros tantos tenham demonstrado arrependimento e mesmo desidentificação. Isso precisa ser compreendido retrospectivamente e colocado no contexto da pandemia/sindemia, que atingiu seu ápice agora, no final de fevereiro de 2021, um ano após o primeiro caso conhecido no Brasil.

Essa "identificação pessoal" com Bolsonaro é na realidade é uma construção social que foi possível graças a diversos fatores, como um declínio da credibilidade dos partidos políticos e do Centrão, onde estava o Bozo entre 2005 e 2016, mas de onde saiu espertamente para articular sua campanha, corporativista, apoiada nos militares e no próprio parlamento, que desejava ter uma imagem de nova política, necessitava ter uma nova imagem. Bozo serviu-se disso, atraiu gente da Lava Jato com promessas furadas, inclusive o então juiz Sergio Moro; foi beneficiado paradoxalmente pela facada, que o tornou "vítima" num país com a maior população de católicos do mundo, que serviu para defini-lo como um "messias" no marketing de seitas religiosas, que o tirou dos debates políticos e deu grande destaque ao seu nome no noticiário, que desgastou ainda mais a imagem da esquerda, de onde veio o cara que deu a facada, etc.


Mas, sobretudo, ele conseguiu por meio de marketing político-digital gerar a polarização com o Lula e a esquerda como se fossem sinônimos de comunismo. Distorceu a história, abusou de fake news, embarcando na estratégia de Steve Banon, para quem trabalha o Eduardo Bolsonaro. Muito está por ser esclarecido sobre isso, mas é certo que o esquema do Brexit e da eleição de Trump é o mesmo usado na eleição do Bozo, ou seja, uso calculado das redes sociais, especialmente whatasapp, com muito dinheiro. No caso da eleição norte-americana, há um aprendizado relevante no livro de Britnay Kaiser, cujo livro, "Manipulados", é acessível gratuitamente na internet.


A eleição de Bolsonaro, assim como a de Trump, é parte de uma série de escândalos tecnomercenários da direita mais retrógrada da história, que exacerba o que foi iniciado por M. Tatcher e R. Reagan. Essa "identificação" da população precisa ser compreendida como algo que foi intencionalmente fabricado, socialmente montado, calculado, criminosamente, em certos aspectos, e também por fatores que se apresentaram de forma contingencial, como a facada, atentado contra o candidato em setembro de 2018. Essa "identificação" também é algo que ficou para trás, lá em 2018, porque ninguém perdeu mais apoio, tão rapidamente, como Bolsonaro, na comparação com ex-presidentes. O próprio PSL rachou no primeiro ano com o escândalo das candidaturas falsas, o chamado "laranjal do PSL", com uso de mulheres na campanha pelo partido, para ganhar dinheiro do fundo partidário.


Bolsonaro passou a mostrar a que veio, ou seja, para destruir as instituições democráticas conservadoras que o Brasil tinha, não para enfrentar o "comunismo", mas para reduzir a participação democrática da sociedade civil, para servir às bancadas da bala, do boi e da bíblia, como se ele fosse um cara religioso -- o que está longe de ser verdade. Ele é fortemente antirreligioso e a prova disso é que demonstra constantemente apego e obsessão por símbolos fálicos, como as armas, e por sua campanha de violência contra as populações mais frágeis, como as indígenas. Não tem sequer noção do que seja um sentimento de compaixão ou empatia. Só não percebe quem não quer que ele é um sujeito com fortes desvios de conduta, com problemas psicológicos bem elementares, como mania de perseguição, de grandeza, etc. O fato de ele ir para o meio do povo sem máscara não expressa apenas seu negacionismo contra a ciência e ignorância mas também sua necessidade de ser admirado e tocado pelo povo, que é símbolo do inconsciente. Ele quer a regressão psicológica, porque a evolução psicológica, para ele, é muito mais desafiadora. A regressão é mais confortável, um caminho mais curto e conhecido de acesso ao insconciente coletivo. Ele quer ser um heroi sem nenhum caráter, como diria Mário de Andrade, a propósito de Macunaíma. Ele não quer trabalhar pela nação, mas servir-se dos recursos públicos -- desde o início da carreira política deu inúmeras evidências disso. Ele quer andar de Jet ski e ser paparicado por puxa-sacos, ocupar as manchetes, para desviar a atenção da pandemia/sindemia.


Ele precisa fazer campanha populista constantemente porque não tem nenhuma proposta de interesse público, não corporativista. Seu pseudoliberalismo é evidentemente parte do estelionato eleitoral. Ele precisa proteger seus filhos, sua esposa, seus amigos milicianos, por isso está em campanha contra a democracia, contra o voto eletrônico....ele precisa armar o cenário para se dizer vítima, como fez Trump, a fim de dar um golpe militar. Para isso precisa ter militares aos milhares sob seu comando. São pelo menos 2500 em cargos de chefia ou assessoria nos poderes da República. Eram 8 dos 22 ministros em outubro de 2020. Recomenda-se a leitura de "Os militares e o governo Bolsonaro, um breve balanço do ano de 2020", disponível em https://opeb.org/2021/01/29/os-militares-e-o-governo-bolsonaro-um-breve-balanco-do-ano-de-2020/


Mas qualquer general, a começar pelo Augusto Heleno, sabe que ele é um desastrado e incompetente, e é muito provável que muitos generais o desprezem e tenham se arrependido de apoiá-lo, porque ele representa um enorme declínio da credibilidade que as FFAA conquistaram ao longo da lenta e conservadora abertura democrática. Bolsonaro representa a interrupção da República, da res publica, da coisa pública. Ele se apresenta como heroi de uma dinastia autocrática.


Diante de tudo isso, não cabe ter ilusões econômicas ou políticas, como faz a maioria da elite empresarial e da maior parte do Congresso Nacional, quanto a superar a pandemia/sindemia com Bolsonaro. Nem ilusões psicológicas. Os que se identificam com Bolsonaro revelam imaturidade psicológica. Precisam de terapia. E o que fazer diante de tudo isso? Para resumir numa frase, precisamos de uma mudança de época, de civilização, além de reconstruir a democracia e a economia perdidas. Um projeto ecológico e cooperativo, inovador, sustentável, multilateral e humanitário...palavras grandiosas para uma realidade trágica. Lanternas na escuridão. O luto pelas milhares de mortes é provavelmente um bom conselheiro...

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